segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Alexandre Calado, Pedro Estêvão - O “Despacho 50”: a construção de uma medida de política educativa

Resumo

A presente comunicação pretende dar conta dos resultados preliminares de uma investigação sobre o processo de concepção e implementação de uma medida educativa pelo Ministério da Educação: a criação dos planos de recuperação, acompanhamento e desenvolvimento para os alunos do ensino básico. A medida tem o objectivo explícito de prevenir o insucesso escolar e é conhecida nas escolas e nos serviços do Ministério da Educação pela designação do documento legal que lhe dá corpo, o Despacho Normativo n.° 50/2005, de 9 de Novembro. Este documento define as figuras e condições de aplicação dos três tipos de planos e estabelece a obrigatoriedade de uma avaliação extraordinária para justificar a decisão de retenção repetida de um aluno.
Partindo de um conjunto de entrevistas aos actores envolvidos na concepção, implementação e monitorização e da análise dos documentos disponíveis sobre cada uma destas etapas, tenta-se reconstruir o contexto, os pressupostos ideológicos, os interesses explícitos dos participantes envolvidos e os constrangimentos que levaram o Despacho n°50/2005 à forma concreta que assumiu. É dada particular ênfase a alguns dos traços da cultura institucional dos serviços centrais e regionais do Ministério da Educação que permeia o processo de construção das medidas de política educativa. Discutem-se assim fenómenos como a centralização do processo de concepção da medida, a preponderância do texto e lógica jurídicos nas intervenções do Ministério da Educação, a fraca preservação de registos, a negligência das condições práticas de concretização da medida ou a fragilidade de monitorização de eficácia e eficiência desta medida.

Marco Trigo, Susana Batista - Das directivas político-normativas aos seus modos de apropriação: para uma análise da relação escola/ comunidade nos discursos dos agentes escolares

Resumo

A importância atribuída à autonomia das instituições escolares, ao papel da comunidade envolvente e às parcerias estabelecidas entre essas duas esferas tem-se intensificado na legislação e discurso político. Este enquadramento apresenta para as escolas diversos desafios organizacionais e de gestão de recursos. Sabendo, porém, que o modo como estas directivas são apropriadas pode diferir segundo os actores em causa, os contextos e os constrangimentos associados, propomos um olhar sobre os discursos produzidos sobre estas questões.
Centrar-nos-emos numa análise de 30 Projectos Educativos (PE's) de cinco concelhos do país, desenvolvida no âmbito do Projecto ESCXEL (Rede de Escolas de Excelência), com o objectivo de aferir como se configura nesse documento a relação escola-comunidade, em termos da presença da comunidade na missão da instituição, no seu papel na elaboração e avaliação do documento e no grau de concretização e explicitação das parcerias. Esse olhar sobre a "visão institucional" será complementado por um estudo de 25 entrevistas a directores de escola e de turma sobre o mesmo tema.
O estudo revelou uma certa naturalização do discurso, pautada por baixos níveis de objectivação dessa relação, além de alguma incoerência entre a visão "institucional" e individual, não havendo diferenças significativas entre contextos. A reflexão sobre não-ditos remeter-nos-á para o questionamento da função do PE enquanto documento de planificação estratégica da escola, face à difícil cristalização das práticas relacionais para lá da retórica discursiva. Contudo, não deixaremos de avançar hipóteses sobre as potencialidades desta relação enquanto inovação organizacional da escola, partindo dos nossos casos concretos.

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Geraldiny Malaguti Caldeira - A Politécnica como princípio pedagógico

Resumo

O objetivo do presente artigo é apresentar a experiência de uma escola guiada pelos princípios da politecnia associada à pedagogia de projetos e a interdisciplinaridade. O Instituto Politécnico da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
O Instituto Politécnico se localiza na cidade de Cabo Frio, Região dos Lagos, a 155 quilômetros da capital do Estado. É uma das cidades que recebe os royalties da extração de Petróleo. Apresenta disparidade entre seus habitantes e território, sendo este constituído por exploração da especulação imobiliária nas áreas de entorno das praias, contando com inúmeros equipamentos urbanos, deixando outras partes da cidade descoberta.
É sob este contexto que o Instituto se destina desenvolver suas atividades educativas, através da pedagogia de projetos, com a orientação política de envolver os educandos, oriundos de qualquer camada social, ao contexto escolar. Assim, a orientação pedagógica se baseia no conceito de politecnia do cientista político Antonio Gramsci: “... a escola única inicial cultural geral, humanista, formativa, que equilibre equânimemente o desenvolvimento da capacidade de trabalhar manualmente (tecnicamente) e o desenvolvimento das capacidades de trabalhão intelectual.” (GRAMSCI,1932.p.118)
Sob esses pensamentos que a equipe de Relações Sociais, composta por profissionais das Ciências Sociais, elaborou e pôs em prática uma atividade relativa aos principais pensadores da Ciência Política – Montesquieu, Hobbes, Locke e Rousseau – com o objetivo de que os educandos pudessem se apropriar, mesmo que de forma relativa, do conteúdo produzido por esses.
A atividade contou com a participação de toda a equipe mencionada. Como recursos, foram utilizados: a pesquisa sobre a obra dos autores, oficinas de interpretação de teatro e, por fim, elaboração de esquetes pelos educandos sobre a obra de um dos autores. A produção final contou também com trabalho escrito pelos educandos e gravação das esquetes encenadas por eles.

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Luísa Veloso, Daniela Craveiro, Telma Caixeirinho - Avaliação externa e organizações escolares

Resumo

A comunicação proposta visa reflectir sobre alguns dos reflexos de uma das medidas de política educativa – a avaliação externa – nas escolas de três regiões portuguesas: Alentejo, Algarve e Lisboa e Vale do Tejo. A partir dos relatórios de avaliação externa, foi efectuada uma análise multivariada que permitiu tipificar as escolas em “inovadoras”, “tradicionais” e “difusas”. A análise de algumas das características das escolas das três regiões e dos respectivos resultados escolares permite concluir que a diferenciação das organizações escolares tem como dimensões-chave as dinâmicas de participação na comunidade educativa e a oferta de ensino. Estas têm uma distribuição territorial não homogénea. A sua diferenciação territorial é visível, não a partir das 3 regiões, mas de uma tipificação desagregada ao nível das freguesias (urbanas, semi-urbanas e rurais). As organizações escolares tradicionais são relativamente mais incidentes em freguesias rurais e mais de metade das organizações escolares inovadoras localizam-se em freguesias urbanas. Com base nesta tipificação, foram seleccionadas 20 escolas e entrevistados os Director da Escola e Presidente do Conselho Geral. Propõe-se, num primeiro momento, apresentar os resultados da análise multivariada que permitiu chegar à tipificação das organizações escolares, discutindo as variáveis discriminantes e, num segundo momento, para cada um dos três tipos de organizações escolares, aprofundar o caso de uma escola.
A articulação aparentemente paradoxal entre o efeito homogeneizador das medidas de política educativa e as diferenciações territoriais das organizações escolares são os dois eixos que propomos debater.

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Pedro Silva, Ana Diogo, Carlos Gomes, Joana Viana, António Barreto, Maria da Conceição Fernandes, Maria da Conceição Sousa - Usos do computador Magalhães entre a escola e a família: sobre a apropriação de uma política educativa em duas comunidades escolares

Resumo

Muitas das políticas e iniciativas que têm sido desenvolvidas nas últimas décadas, com o objectivo de promover as tecnologias de informação e comunicação (TIC) na educação, circunscrevem-se ao espaço escolar. O programa de distribuição de computadores portáteis no 1º ciclo do ensino básico, iniciado em 2008/09, no quadro do Plano Tecnológico da Educação, tem a particularidade de amplificar a sua intervenção, ao pretender promover o uso do computador e da Internet tanto na escola como em casa.
O que parece estar em causa é o uso precoce das TIC, assim como o alargamento da base sociológica da sua utilização, não só na escola, mas também noutros contextos, nomeadamente na família, na medida em que a promoção do acesso a estes recursos no contexto familiar poderá reforçar as aprendizagens escolares e reduzir as desigualdades de oportunidades no uso das TIC.
Para além das questões acerca dos usos e impactos das TIC no contexto escolar, a análise da realidade decorrente da introdução dos computadores Magalhães vem colocar, com uma pertinência acrescida, um conjunto de questões relativas à relação entre os dois contextos em causa.
A comunicação pretende equacionar efeitos de uma política educativa em duas comunidades escolares, a partir do ponto de vista da sociologia da educação, bem como apresentar, numa perspectiva comparativa, resultados de dois estudos empíricos similares, conduzidos um numa escola básica integrada de Ponta Delgada e outro num agrupamento de escolas de Leiria. Ambos os estudos ancoram-se numa postura ontológica e epistemológica de índole fenomenológica, atenta ao cruzamento fecundo entre o dedutivo e o indutivo, integrando ambos uma componente extensiva (com recurso a inquérito por questionário a professores, pais e alunos) e outra intensiva (com recurso a entrevistas e à etnografia de uma turma seleccionada em cada um dos dois territórios educativos).

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Susana Faria - Os sistemas de comunicação educacional como sistemas híbridos: um esforço de conceptualização

Resumo

Embora haja sinais de uma certa hegemonia da ideologia e das práticas managerialistas na actual gestão das escolas, o hibridismo político e institucional parece ser o traço dominante do panorama educativo em Portugal. Na sequência dos trabalhos que outros autores vêm desenvolvendo sobre a nova gestão pública no ensino superior , temos vindo a sustentar que as mudanças ocorridas são mais retóricas do que substantivas, sendo a nova retórica institucionalmente assumida, enquanto as práticas antigas se mantêm ou, pelo menos parcialmente, integram o novo discurso, reformulando-o e retirando-lhe alguma da força que os seus acérrimos defensores nela depositam.
Em termos comunicacionais, a hipótese por nós enunciada, é a de que o carácter híbrido das instituições educativas tem permitido integrar, numa perspectiva instrumental, diferentes processos, tipos e circuitos de comunicação, configurando sistemas de comunicação altamente complexos e, igualmente, híbridos. Este hibridismo comunicacional, que afasta a ideia de um plano de comunicação organizacional integrado, onde os processos comunicacionais constituiriam elementos de uma acção continuada, é tanto mais importante quanto condiciona a transformação identitária. É que a comunicação parece estruturar o contexto de mudança e estar na génese de alguns dos rótulos identitários que as instituições atribuem a si próprias.
Os dados empíricos que sustentaram este estudo, recolhidos no âmbito de um projecto de doutoramento, resultaram da observação do quotidiano de um agrupamento de escolas do ensino básico e dos testemunhos recolhidos, ao longo de três anos, nesta comunidade educativa.

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Angelina Carvalho, Manuela Ramôa - Do Centro às Periferias: do Programa TEIP 2 aos projectos TEIP

Resumo

Algumas escolas interpretaram, reinscreveram e deram corpo, através das suas práticas, a um projecto – escolas TEIP – inscrito no Programa TEIP 2.
Evocando a necessidade de combater as situações de exclusão e de abandono escolar, este Programa corporiza políticas educativas nacionais e pretende ser concretizado por um projecto de escola. O Programa TEIP 2, apoiando-se no princípio da discriminação positiva em prol da igualdade de oportunidades e num conceito de comunidade alargada, de responsabilidade dos diferentes actores e/ou parceiros do projecto, propunha-se “activar” a participação da comunidade local e envolver, implicando-a, toda a comunidade escolar.
A partir do trabalho com algumas escolas/agrupamento TEIP, na qualidade de perito externo, pudemos fazer um acompanhamento crítico de percursos, avanços, recuos e reinterpretações. Tentámos ler o sentido e significado das discrepâncias entre os discursos explícitos e implícitos, entre o prescrito e o sugerido, entre o desejado e o concretizado.
Em escolas diferentes encontrar-se-ão diferentes conceitos de territórios quer na definição quer na concretização dos projectos.
As dinâmicas da tutela e das escolas; as diferentes expectativas que vão desde a concepção e redacção do projecto ao seu desenvolvimento; as dinâmicas das escolas e dos actores; as micro políticas nas organizações, as resistências e potencialidades, poderão ajudar a compreender algumas das dimensões inscritas nas respostas das organizações aos mandatos que detêm.

João Sebastião, Joana Campos, Sara Merlini - Contextos escolares e violência: uma análise comparada das determinantes organizacionais, formas de regulação e prevenção

Resumo

A ideia de que a violência na escola é um fenómeno recente e causado por factores exteriores tem fortalecido as concepções que consideram que estas não têm sido capazes de definir estratégias eficazes de regulação da violência na vida escolar. Procurando compreender que factores favorecem ou bloqueiam tais estratégias e mecanismos, apresentamos, nesta comunicação, os resultados de um estudo de caso desenvolvido pelos autores no âmbito do Observatório de Segurança Escolar.
Tendo como ponto de partida os dados estatísticos nacionais sobre os incidentes de violência nas escolas, realizámos uma análise comparativa em duas escolas contrastantes, quer do ponto de vista das situações de conflito, quer do meio social envolvente. Analiticamente foram consideradas duas dimensões convergentes nos processos de prevenção e intervenção: as orientações para a acção organizacional e a acção organizacional em si mesma.
Esta investigação permitiu realçar a centralidade de alguns factores como: a liderança e coordenação organizacional, a definição e modos de apropriação interna das estratégias de regulação e, ainda, os de mecanismos e práticas efectivos de resposta às situações de violência.

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Margarida Quintela Martins, Belén Rando, César Madureira - Actividades de Enriquecimento Curricular das Escolas do 1º Ciclo do Ensino Básico – Estudos de Caso em Lisboa e Porto

Resumo

As Actividades de Enriquecimento Curricular (AEC) surgiram em 2006 no contexto de uma nova política educacional que procurava aprofundar o desenvolvimento das crianças do 1º Ciclo do Ensino Básico, assim como responder às necessidades de conciliação, por parte das famílias, entre o horário de trabalho e o horário das crianças na escola.
O estudo levado a cabo por Madureira et al. (2008), no Concelho de Oeiras, revelou que as AEC iam ao encontro de algumas das necessidades e expectativas das famílias, permitindo maior igualdade no acesso das crianças a actividades extra lectivas.
Na sequência da investigação referida, e com o intuito de auscultar também as possibilidades de uma Escola a Tempo Inteiro, um ano mais tarde foi desenvolvido o estudo objecto da presente comunicação. Neste último, foram efectuadas entrevistas semi-dirigidas a representantes das escolas/agrupamentos, das associações de pais e das autarquias de quatro escolas de Lisboa e do Porto. Também, se levou a cabo um inquérito por questionário aos encarregados de educação.
Os resultados revelaram alguns aspectos positivos, mas também algumas fragilidades. Por um lado, uma forte adesão às AEC e a percepção de estas actividades como úteis para o desenvolvimento das crianças e como essenciais num processo de conciliação entre trabalho e família. Por outro lado, a necessidade de introduzir melhorias no que diz respeito aos espaços, ao rocesso de selecção de professores/monitores e à informação fornecida às famílias, evidenciando-se a necessidade de uma maior articulação entre os diversos actores (famílias, escola, autarquias e associações de pais). Por último, a ausência de um consenso alargado entre as partes relativamente à responsabilidade que a escola deva ter na criação, a nível gratuito, de períodos de ocupação dos tempos das crianças para além dos períodos lectivos e de AEC, poderá exigir a necessidade de reequacionar o conceito de Escola a Tempo Inteiro.

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Patrícia Torres de Barros, Isabel Candeias - Projecto curricular integrado: uma experiência de investigação-acção no contexto de uma turma de 8º ano de um Percurso Curricular Alternativo

Resumo

A reorganização curricular do Ensino Básico implica a construção de projectos curriculares com o objectivo de adequar os processos de ensino e de aprendizagem à realidade de cada escola e de cada turma. Esta exigência trouxe à tona uma discussão sobre as possibilidades concretas de articular as orientações curriculares nacionais e a diversidade cultural presente na sociedade actual e que se reflectem nas comunidades educativas.
Assim, considerando esta realidade, o presente estudo tem como objectivo principal detalhar o processo de construção (concepção, desenvolvimento e avaliação) do projecto curricular de integrado de uma turma, de uma escola básica do norte de Portugal, focando os seus pressupostos, finalidades e objectivos. O Projecto Curricular de Turma (PCT) concretiza-se através do projecto de intervenção “Um Percurso Alternativo para o Sucesso”, dinamizado no ano lectivo 2009/2010 e início do ano lectivo 2010/2011, através da expansão do currículo de um Percurso Curricular Alternativo (PCA) experienciado no 5.º, 6.º e 7.º anos para um curso de educação e formação no 8.º ano como forma de ajustar o percurso destes jovens à oferta do mercado de trabalho e às suas próprias capacidades. Neste sentido, a investigação-acção foi escolhida como a estratégia de intervenção/inovação, para potenciar a aprendizagem dos alunos e o desenvolvimento profissional dos professores.
Neste estudo, propomo-nos a analisar algumas actividades implementadas no âmbito do projecto de IA identificando papéis dos professores e alunos, as aprendizagens realizadas pelos educandos e o processo investigativo realizado pelos professores.

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Gonçalo Nuno Ramos Maia Marques - A Importância do conhecimento histórico na construção identitária e social das primeiras idades

Resumo

Pretende-se com este trabalho de investigação perceber qual a importância que o conhecimento histórico pode ter nas áreas científico-curriculares do Conhecimento do Mundo (na Educação Pré-Escolar) e no Estudo do Meio Social (1º Ciclo do Ensino Básico). Esta etapa inicial do processo de Educação Básica reveste-se de grande significado na formação pessoal e social do indivíduo, pelo que importa fazer um levantamento do que já se tem trabalhado nesta área e das enormes potencialidades que o futuro encerra.
É importante que criança comece a desenvolver a noção de tempo, de pertença a uma comunidade com práticas culturais próprias (senso de identidade local/regional/nacional e universal), que perceba a importância da preservação do património histórico e cultural, bem como os primeiros rudimentos de cidadania activa e de historicidade da localidade ou, mesmo, nacionalidade.
Este trabalho baseia-se em alguns estudos de caso desenvolvidos no concelho de Viana do Castelo através do trabalho de prática pedagógica realizado pelos estagiários das antigas Licenciaturas (Pré-Bolonha) de Educação Básica, Professores de 1º ciclo do ensino básico e, mais recentemente, do curso de Educação Básica. É, portanto, um estudo de índole teórico-prática, que procura abrir pontes para o aprofundamento destas temáticas e lançar o debate que deverá envolver académicos, educadores, agentes educativos, estudantes e toda a sociedade educativa.

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Jorge Ilídio Faria Martins - Num território hegemonizado pela oferta municipal de actividades de desenvolvimento curricular, Ramalde proclama-se a “aldeia dos gauleses”. Com que razões? Com que resultados?

Resumo

Esta comunicação dá conta de uma parte de um estudo que o Observatório da Cidade Educadora (CIIE/FPCE-UP) está ainda a desenvolver sobre a oferta das Actividades de Enriquecimento Curricular na cidade do Porto, com o objectivo geral de conhecer como está esse programa a ser sentido e vivido.
O Programa AEC’s, de âmbito nacional e criado em Junho de 2006, pretendia generalizar a oferta gratuita de um conjunto pré-definido de actividades que “enriqueciam” o currículo do 1º ciclo e, ao mesmo tempo, propunha constituir-se como fonte de organização de respostas sociais de apoio às famílias. O executivo municipal do Porto adoptou o Programa e estabeleceu-o em 14 das 15 freguesias da cidade. No entanto, Ramalde não quis fazer o mesmo, constituindo-se assim como um interessante “case study” no domínio das políticas locais de educação e, em particular, das justificações para as respectivas tomadas de decisão.
Partindo da análise dos contextos de decisão intervenientes no programa das AEC, esta parte do estudo pretende identificar as razões (políticas, sociais, organizacionais, financeiras, etc.) que levaram à “criação de um território educativo sui generis” dentro do território municipal, pretende também “retirar o véu” que cobre as justificações que os diversos actores apresentaram para que a “autonomia” da freguesia de Ramalde se afirmasse e, finalmente, procura mostrar como a gestão local da diferenciação socioeducativa e da desigualdade social se processa com relativo êxito no quadro daquela “autonomia”.
O estudo envolveu a audição (entrevistas e questionários) de todos os actores envolvidos, desde os responsáveis pelo poder ao nível da freguesia e do agrupamento de escolas, até aos professores titulares de turma e aos monitores das AEC’s, passando pelos pais das crianças que frequentam ou não essas actividades. Nessa audição, os actores foram questionados sobre a constituição da oferta local, a organização e funcionamento dessa oferta, os impactos sentidos no terreno e sobre as suas próprias representações acerca do programa. É também o resultado dessa audição que agora se restitui a todos quantos colaboraram neste estudo.

Carla Sónia Lopes da Silva Serrão - A educação sexual nos territórios educativos e no currículo escolar, de que forma?

Resumo

Apesar do significado nuclear das inovações operadas ao nível do macrossistema no que diz respeito à Educação Sexual (E.S.), o envolvimento das escolas e dos/das professores/as é ainda insuficiente. Veja-se a título exemplificativo o estudo de Serrão e colegas (2006), em que se concluiu que apenas 40,8% dos/das professores/as inquiridos/as se envolvem neste processo, somente 28,3% (no estudo de Ramiro e Matos, 2008) e apenas 27,7% (no estudo de Reis e Vilar, 2004) dos/das professores/as promovem acções de E.S..
A par destes resultados, outros permitem dar conta da inoperância da E.S. nas práticas quotidianas destes agentes, mostrando efectivamente que a sua promoção se caracteriza: pela dispersão e pela ausência de continuidade; pela sua não integração no quotidiano escolar; por ser uma actividade exclusiva dos/das professores/as interessados/as e motivados/as em levá-la a cabo; e por ser dirigida apenas a um conjunto muito restrito de estudantes (conforme resultados apresentados pelo GTES, 2007b).
Ora, sendo a E.S. um direito, um dever da escola e de todas as instituições sociais, propomo-nos reflectir sobre a sua construção. Construção esta, que deverá ser integrada num espaço local específico, onde os diálogos e a co-responsabilização se traduzirão em efectivas oportunidades para redução das desigualdades e assimetrias e para o desenvolvimento pessoal e social do indivíduo.

Alexandra Cabeçadas, Arsénio Nunes Aníbal - Aprender com a Vida: retratos e trajectórias de adultos portugueses pouco escolarizados

Resumo

Ao longo da vida dos indivíduos, vários agentes sociais desempenham, além da instituição escolar, um papel educativo, mais ou menos significativo.
A sociologia da educação tem à sua disposição enquanto objectos de estudo, os processos de aprendizagem e de aquisição de competências em que se encontram envolvidos e implicados os actores sociais ao longo de toda a sua trajectória de vida, em diferentes e múltiplos contextos sociais.
É no sentido da compreensão do papel desses outros agentes educativos e da forma como se processa a aprendizagem e a aquisição de competências nesses outros contextos educativos, que me proponho apresentar nesta comunicação o ponto de situação actual da minha dissertação de doutoramento, dividindo-a em 3 partes:

1) Desenvolvimentos teóricos, em sociologia, sobre:
- Literacia (explicitação da importância acrescida da Literacia nas sociedades contemporâneas);
- Aprendizagem e cognição (apresentação de teorias sobre os processos cognitivos associados às competências de literacia);
- Leitura e escrita como instrumentos de reflexividade e de ruptura com o sentido prático;
- Aprendizagem narrativa (abordagem dos efeitos transformadores da escrita sobre a própria vida: Projecto “Learning lives”).

2) Explicitação da questão central da investigação
Os resultados de estudos nacionais e internacionais de literacia evidenciam o défice de competências de literacia da população portuguesa. E permitem compreender que esse défice se deve sobretudo à reduzida escolarização média da população, sendo que essa relação entre literacia e escolaridade é especialmente gravosa para o nosso país. Existem, no entanto, excepções, singularidades. Esta regularidade social tão evidente foi “furada” por alguns indivíduos que, apresentam um perfil de literacia elevado, apesar de terem frequentado a escola durante um número muito reduzido de anos.
Considerando como relevante e válida a compreensão da realidade e das regularidades sociais a partir do seu confronto com as singularidades, o enfoque da pesquisa foi colocado nestes casos singulares/excepções estatísticas, pretendendo-se conhecer detalhadamente os percursos biográficos dos adultos com desempenhos excepcionais nos processos de reconhecimento, validação e certificação de competências.

3) Estratégia metodológica adoptada e resultados provisórios
Na 3ª parte da comunicação, explicitarei as opções feitas em termos metodológicos: a construção da amostra, a opção pela abordagem biográfica (interlocuções/entrevistas e análise dos Portefólios Reflexivos de Aprendizagens dos indivíduos seleccionados). Prevê-se ainda a apresentação dos resultados preliminares das primeiras entrevistas e da respectiva análise de Portefólios.

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Sandra Saúde, Sandra Lopes - Aprendizagens e Percursos Formativos: Interligações e Disrupções. O estudo de caso dos técnicos de Animação Sociocultural

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Tendo por base as características e especificidades do perfil de competências/de actuação do profissional de Animação Sociocultural, a comunicação que nos propomos apresentar centrar-se-á na exploração e discussão da forma como esse perfil é construído/modelado pelo processo formativo (nomeadamente de nível superior) e vivenciado/reajustado em função dos contextos de trabalho em que intervém (serviços educativos, bibliotecas, museus, lares de idosos, actividades de tempos livres, entre outros).
Tendo por base um conceito de educação/ formação como um processo que deverá capacitar os indivíduos para autonomamente serem activos no seu percurso de aprendizagem e de se qualificarem de acordo com as exigências formativas exigidas pelos contextos profissionais em que participam, interessa-nos reflectir sobre o alcance deste pressuposto no âmbito da formação/intervenção destes profissionais. Deste modo, através do percurso empírico que suportará a análise, pretendemos compreender se e de que forma as necessidades de desenvolvimento de competências específicas e de aquisição de novos conhecimentos necessários aos contextos de trabalho contribuem para a manutenção ou modificação do perfil de competências consolidado durante a sua formação inicial conferindo-lhes, quando em interacção com outros profissionais, um campo diferenciado de actuação.

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Armando Paulo Ferreira Loureiro - Sociologia da Educação: novos territórios e agentes educativos

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A sociologia da educação tem, tradicionalmente, centrado a sua atenção na instituição escola e a justificação de tal facto deve-se ao relevo que esta tem tido. No entanto, outros territórios e agentes educativos vêm assumindo um papel cada vez mais pertinente no contexto educativo, com particular incidência no campo da educação de adultos. Estes agentes assumem inclusive funções que até há bem pouco tempo eram exclusivas da escola, como seja a da certificação escolar. Que territórios e agentes educativos são esses? Quem são esses novos “profissionais” e o que fazem em concreto? E os novos públicos, quem são? O que os motiva a procurar todo um conjunto de novas ofertas educativas? Que efeitos sociais resultam dessa certificação? Por outro lado, o próprio território/agente educativo escola se vem redefinindo à luz de parte desta mesma oferta educativa no campo da educação de adultos. De que forma esta nova realidade tem sido vivida pela escola e pelos seus professores? Estas são algumas questões a que, na nossa perspectiva, a sociologia da educação deve procurar dar resposta de forma mais intensa. O principal objectivo desta comunicação é debater essa necessidade, que já tem sido levantada entre nós por alguns autores, procurando trazer para a mesma alguns dados empíricos.

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Jorge Manuel Salgado Simões - Torres Novas. Território Educativo. Território Educador. Experiências de intervenção local em Educação

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Com a presente comunicação pretende-se debater a intervenção local em educação, a partir da dialéctica de construção do território educativo e do território educador. Para tal, parte-se das experiências do município de Torres Novas e da sua intervenção na área da educação, na perspectiva dos equipamento e ofertas educativas disponibilizadas, mas também em consonância com a construção de um território centrado no desenvolvimento integral dos seus cidadãos, em linha com os princípios da Carta das Cidades Educadoras.
Entre as preocupações que se colocam actualmente à gestão municipal, e que estão na base da participação de Torres Novas no movimento das cidades educadoras, destaque para as questões da participação, da identificação e da mobilização dos cidadãos para as questões colectivas, entre outros problemas dos espaços urbanos na actualidade, como a fragmentação social, as questões ambientais e de ordenamento do território, ou a conservação e divulgação do património cultural.
Algumas das respostas para as questões identificadas são experimentadas com o desenvolvimento de projectos municipais na área da educação formal e informal, nomeadamente: um plano de reconversão de todo o edificado ao nível da educação pré-escolar e do 1.° ciclo, e respectivo apetrechamento, um projecto de actividades de enriquecimento curricular com preocupações de qualificação das aprendizagens, em condições de igualdade e de partilha de equipamentos públicos entre a comunidade escolar; a realização de uma feira do ambiente com o envolvimento de vários actores locais e nacionais a actuar na área; ou ainda a estruturação de actividades e serviços educativos em equipamentos culturais da cidade, como o museu, a biblioteca ou o teatro municipal, reconhecendo as potencialidades educadoras da cultura e do património local.
Potencialidades, virtudes, limitações e constrangimentos da intervenção municipal na área da educação: o dia-a-dia e o devir na construção de um território simultaneamente educativo e educador em Torres Novas.

Artigo

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Deolinda Araújo, Elisabete Ferreira, José Alberto Correia - Sentidos em construção: vozes e olhares dos professores em territórios educativos de intervenção prioritária (TEIP)

Resumo

A comunicação que se apresenta resulta de um estudo etnográfico que vimos desenvolvendo em Territórios Educativos de Intervenção Prioritária (TEIP), debruça-se sobre fenómenos de exclusão social e programas de inserção concebidos como dispositivos de integração e inclusão dos grupos em situação de fragilidade ou mesmo ruptura social.
É objectivo central deste estudo compreender as potencialidades e as possibilidades educativas que estes dispositivos promovem, bem como o seu contributo para o desenvolvimento e o combate à exclusão, considerando, nomeadamente, as produções cognitivas e relacionais destes dispositivos.
Pretende-se, compreender as subjectividades dos participantes, o que exige perceber as acções, relações e comunicações que ocorrem entre estas pessoas e os contributos para a sua formação identitária e profissional. O que equivale a dizer que nos importa escutar as narrativas dos sujeitos enquanto se descobrem na forma como se contam.
Nesta comunicação daremos conta do enquadramento teórico disponível e em construção no decurso desta investigação. Porém, é a voz e os olhares dos agentes educativos destes territórios, especialmente dos professores, de que aqui faremos eco, considerando a forma como olham, interpretam e sentem o trabalho educativo, como se tecem sentidos e entendimentos.
Apresentaremos os resultados parciais da análise do material empírico, nomeadamente o recolhido através de grupos de discussão focalizados, sobre os entendimentos que os professores conferem ao seu trabalho educativo face à concepção, desenvolvimento e avaliação do PE TEIP com o intuito de esclarecer e fomentar dinâmicas cooperativas e reflexivas entre comunidades de professores que trabalham com jovens nas margens dos tecidos sociais.

Ricardo Manuel Neves Vieira, Ana Maria de Sousa Neves Vieira - Territórios Educativos e mecanismos de lidar com a diferença na escola

Resumo

Pretendemos, nesta comunicação, dar conta duma investigação a decorrer no CIID-IPL (www.ciid.ipleiria.pt) que compara as práticas de Professores e de Técnicos Superiores de Serviço Social (TSTS) em dois Territórios Educativos do concelho de Leiria: um Território Educativo de Intervenção Prioritária (TEIP) e um Agrupamento Escolar que tem sustentado uma “Oficina de Comportamento” a par do currículo formal e experimentado um Gabinete de Apoio ao Aluno e à Família (GAAF) do Instituto de Apoio à Criança (IAC) como meio de mediação sociopedagógica.
Em ambos os territórios, as funções de mediação têm sido desempenhadas por professores e TSTS, um com mais autonomia para sustentar mediadores, outro que tem privilegiado o projecto educativo como gerador de créditos horários para afectar professores ao trabalho de mediação.
Apesar das diferenças estruturais e de variedade de agentes educativos implicados, em ambos os territórios há uma crença de se trabalhar com a diferença cultural na escola, com a mediação de tensões sociais mas as práticas e discursos de professores e TSTS parecem inscrever-se numa postura ideológica próxima do que designamos de “patologização da diferença” que vê a escola contemporânea com muitos problemas que têm de ser resolvidos não só por professores mas, também, por psicólogos e TSTS como sejam os assistentes sociais, educadores sociais, sociólogos, animadores, etc. A tónica da prática parece ser posta na mediação para a resolução de conflitos (a escola como o hospital dos problemas sociais) e não tanto da mediação sócio-cultural, a montante dos problemas, resultante da (in)comunicação entre os agentes educativos e os alunos e suas famílias, bem como entre os diferentes alunos.

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Tiago Neves, Isabel Silva Cruz, Rosário Silva – Entre constrangimentos e potencialidades: o papel das escolas no combate à pobreza e exclusão social

Resumo

Nesta comunicação pretende-se apresentar e debater alguns dos constrangimentos e potencialidades das escolas enquanto agentes locais que desempenham um papel cada vez mais relevante pela intervenção que desenvolvem no combate à pobreza e exclusão social.
Os dados empíricos em que se ancora esta reflexão decorrem de um projecto de investigação que procurou caracterizar a acção local no combate à pobreza e exclusão social. Este estudo, realizado pelo CIIE - FPCE-UP e financiado pelo Instituto de Segurança Social - ISS, foi desenvolvido em 12 concelhos de Portugal Continental, entre Fevereiro e Setembro de 2010. A partir de entrevistas semi-estruturadas privilegiou-se o conhecimento sobre o modo como as diferentes instituições seleccionadas desenvolvem a sua intervenção, o "como fazem".
Na opinião dos nossos interlocutores, os principais constrangimentos que limitam a acção da escola ao nível da intervenção social prendem-se com uma uniformização das normas e dos requisitos impostos pelo poder central (Estado, Ministério da Educação; Segurança Social, entre outros). Assim, ao não atenderem às especificidades dos diferentes territórios, nomeadamente em termos sociodemográficos e de recursos, condicionam a oferta de Cursos Profissionais, de Cursos de Educação e Formação (CEF) e do próprio Programa Integrado de Educação e Formação (PIEF). Deste modo, combater o abandono escolar e contribuir para o aumento das qualificações dos jovens de modo a quebrar ciclos de pobreza e exclusão torna-se numa tarefa hercúlea em territórios caracterizados por elevadas taxas de risco social.
As potencialidades enfatizadas centram-se na relação de proximidade e no conhecimento privilegiado da comunidade escolar que lhes permite sinalizar situações de risco e colaborar com diversas entidades (Autarquias, Centros de Saúde, etc.) e órgãos e estruturas locais (CLAS, CPCJ, Rede Social, entre outras). Este trabalho de cooperação desenvolvido em rede e no âmbito de parcerias locais, supra-concelhias e regionais gera dinâmicas e estratégias que potenciam a fixação da população jovem.

Aurora Paixão, Sandra Saúde - Educação informal intergeracional: o caso da transmissão dos usos e costumes da medicina popular

Resumo

Na lógica da exploração da “territorialidade” do processo educativo, pretendem-se apresentar os resultados de um trabalho de investigação que, baseado no estudo de seis casos em duas zonas distintas do país, Beira Alta e Baixo Alentejo, procurou explorar as dinâmicas subjacentes à educação informal e à forma como esta é transmitida de geração em geração.
A partir do exemplo dos hábitos e mezinhas típicos da medicina popular procedeu-se à exploração de 6 histórias de vida que nos ajudaram a situar e a compreender as características do processo educativo intergeracional.
Em campo profundamente influenciado pela matriz cultural e religiosa, a interpretação das formas e dos rituais de passagem, entre gerações, dos conhecimentos e das práticas da medicina popular ajudam-nos a comprovar o carácter situacional e funcional do acto educativo, mesmo o informal. Utilizando a oralidade, a demonstração e, nalguns casos, muito raros, o registo escrito, os mais velhos procuram garantir junto dos mais novos (nos que confiam e acreditam e já experienciaram), e de forma quase secreta, a preservação “do legado”, “do dom” que “.. não se ensina nas escolas mas que pode ser aprendido, desde que se sigam bem as regras”. O passar e a apropriação da mensagem e do ensinamento (da benzedura, da mezinha..) é um acto de partilha e de enriquecimento que só se faz mediante prévia comunhão de representações e interesses. Resulta de um processo de entendimento, baseado na exemplificação e na demonstração, em que a cadeia geracional de conhecimento depende estruturalmente do respeito garantido ao aprendido.

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Helena Arcanjo Martins, António Neto-Mendes, A.M. Rochette Cordeiro - Cartas Educativas: soluções de reordenamento da rede escolar e mudanças no(s) território(s)

Resumo

Desde 2003, as Cartas Educativas Municipais têm vindo a ganhar especial relevância no reordenamento da rede escolar do 1.º ciclo, obrigando os diferentes actores locais, em especial os agentes políticos e educativos a discutirem e a tomarem importantes decisões, sobre o seu território, em especial, no plano que denominamos por carta localmente decretada. A atribuição desta competência aos municípios (DL 7/2003) concede-lhes, no campo das hipóteses, um importante papel na conceptualização da rede educativa municipal, em vez da posição, quase sempre marginal e subordinada aos objectivos nacionais do sistema educativo centralizado, que caracterizou a relação do Estado Educador com os municípios, convocando, para o debate, as tensões da centralização e da descentralização educativa.
Em simultâneo, a carta educativa configura uma “janela de oportunidades”, para a afirmação das especificidades territoriais, através da legitimação de soluções de reordenamento diferenciadas, que introduzem lógicas e dinâmicas bem distintas daquelas que sempre caracterizaram o “mapa único” da rede do 1.º ciclo. Enquadrada no contexto mais vasto da investigação, que estamos a desenvolver sobre a “regulação das cartas educativas” e a partir da análise de 4 das 14 cartas educativas que compõem o nosso estudo, a nossa comunicação propõe-se, em primeiro lugar, identificar o tipo de equipas responsáveis pela sua elaboração e quais as lógicas de análise; em segundo lugar, caracterizar as diferentes soluções de reordenamento da rede plasmadas nas cartas educativas e as mudanças que as mesmas incorporam para cada um dos territórios, sejam eles de baixa ou média densidade; por último, analisar e problematizar os pareceres dos Conselhos Municipais de Educação e as votações na Assembleia Municipal sobre as cartas educativas, tendo em conta e as diferentes soluções encontradas, para cada um dos territórios em análise.

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Cristina Roldão - Um Retrato dos Trajectos de Contratendência de Sentido Ascendente no Ensino Secundário

Resumo

Os casos de elevado sucesso escolar provenientes de contextos familiares desfavorecidos são particularmente sedutores por desafiarem, à primeira vista, a “esperada”, e amplamente estudada, correlação entre desigualdades sociais e escolares. É em França e a partir da década de 90 que começam a surgir as primeiras pesquisas sobre este tipo de trajecto. São, na sua maioria, estudos de índole qualitativa, centrados nas famílias e tematicamente articulados com as questões do acesso à educação por parte de descendentes de imigrantes.
Embora esse não fosse o enfoque principal da pesquisa, o “Projecto ETES: Os Estudantes e os seus Trajectos no Ensino Superior: sucesso e insucesso, factores e processos, promoção de boas práticas” (Costa e Lopes, 2008), desenvolve uma análise de índole biográfica (retratos sociológicos) sobre aquilo a que se chamou trajectos escolares de contratendência. Pretende-se desenvolver na presente comunicação um retrato extensivo das características sociais e escolares dos estudantes neste tipo de trajectos, utilizando-se para isso os dados recolhidos através do inquérito por questionário “Estudantes à Saída do Nível Secundário de Ensino 2009/10” (amostra não probabilística), do Observatório de Trajectos dos Estudantes do Ensino Secundário (OTES-GEPE/ME).

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Elsa Guedes Teixeira - Percursos Singulares de Jovens no Ensino Superior

Resumo

Estudo sobre trajectórias de sucesso escolar de grupos sociais desfavorecidos no ensino superior, que pretende contribuir para o debate dos conceitos de habitus e de disposições em Bourdieu e Lahire. Escolhendo um caminho que tradicionalmente tem sido trabalhado em grande parte pela Psicologia, ou que, quando tratado pela Sociologia ou pelas Ciências da Educação, tem sido analisado pela vertente do insucesso, pretende-se compreender sociologicamente o sucesso escolar em situações adversas, não o explicando em termos de mérito individual, propondo a compreensão sociológica de histórias singulares.
Através da construção de quatro percursos biográficos e da análise de quarenta processos sociais de bolseiros, pretendeu-se estudar as trajectórias de sucesso, tentando compreender as implicações que o estilo educativo e a coesão familiar, bem como as estratégias familiares têm no sucesso escolar (estudando a contribuição específica destas famílias para o sucesso escolar dos filhos).
Foram verificados como factores explicativos do sucesso escolar dos jovens estudados os seguintes: leitura precoce; cálculo racional do percurso escolar dos filhos e disposições familiares ascéticas; ordem moral doméstica de rigor, valorização do estudo e trabalho escolar, acompanhamento do trabalho escolar, valorizando a auto-regulação; estilo de educação contratualista e papel fulcral da figura feminina (mãe). Verifica-se ainda que a frustração das ambições escolares dos pais funciona como alavanca para o sucesso dos filhos, o que permite compreender este fenómeno como parte da trajectória familiar geracional.

José Augusto Palhares, Leonor Lima Torres - Percursos de Excelência no Ensino Secundário: representações e práticas de alunos distinguidos num quadro de excelência

Resumo

Integrada num trabalho de investigação mais vasto sobre as dimensões culturais e simbólicas das organizações educativas, esta comunicação pretende explorar sociologicamente o processo de construção da excelência escolar, tomando, neste texto, o sucesso académico como um indicador de partida. A partir de um estudo de caso em curso numa escola secundária do norte de Portugal, pretendemos, num primeiro momento, caracterizar o universo dos estudantes que nos últimos sete anos têm figurado no quadro de excelência dessa escola, cuja média dos resultados escolares se tem situado em valores iguais ou superiores a 18 valores. Após traçarmos o perfil sociográfico de cerca de três centenas e meia de “alunos excelentes” nas suas múltiplas dimensões (escolares, familiares, culturais), apoiados na informação obtida pela análise de conteúdo aos seus registos biográficos, evoluimos posteriormente para a sua localização no par instituição/curso do ensino superior, de modo a compreendermos os sentidos dos distintos investimentos académicos ao longo da escolarização secundária. A nossa investigação empírica avançou para a administração de um inquérito por questionário ao universo dos alunos laureados desde o ano lectivo de 2003-2004, com o propósito de explorar o percurso e a experiência de excelência escolar, construída na escola e para além dela, mobilizando para o efeito o capital teórico da sociologia da educação e os contributos das abordagens culturais da escola. É justamente pela mobilização desta variedade de dados que estruturaremos a nossa comunicação, privilegiando um enfoque contextualizado dos fenómenos educativos, dando particular atenção às especificidades culturais da escola-objecto como um suporte analítico para o estudo das mútuas articulações entre as estretégias e as disposições dos diversos actores face à escola e os padrões de excelência institucionalmente adoptados.

Sara Filipa Loureiro Silva Moreira de Sousa, Sofia Marques da Silva - Narrativas Biográficas de Mulheres e Raparigas surdas: reconhecer diferentes trajectórias escolares

Resumo

O objectivo desta comunicação é discutir diferentes percursos escolares de mulheres e raparigas surdas, dando a conhecer as suas experiências, nomeadamente de desigualdades, num mundo maioritariamente ouvinte. Através de narrativas biográficas procuramos problematizar aspectos da educação de surdas/os de diferentes gerações, e compreender as suas realidades enquanto sujeitos educativos marcados por uma especificidade: a surdez. Deste modo, é a partir da sua “condição” enquanto mulheres surdas, e através das suas próprias ‘vozes’ e gestos, que iremos perceber em que encruzilhada se encontra a educação das/os surdas/os (Skliar, 1998). Se as lutas protagonizadas pelo movimento feminista pela igualdade de oportunidades para todas/os se revelam importantes para a sociedade em geral, e para as mulheres em particular, a verdade é que nem sempre os efeitos das lutas chegaram a todas as mulheres. Pode dizer-se que no âmbito dos Estudos Feministas e Estudos Sobre as Mulheres pouca atenção tem sido dada à questão das mulheres surdas (Moreira, 1998; Robinson, 2006). Mais especificamente, os Estudos Surdos em Educação [Skliar (1997), Sim-Sim (2005), Barnartt (2006)] têm, contudo, procurado contribuir para a construção de um saber em torno das experiências e percursos educativos de mulheres surdas no âmbito do que têm sido as várias correntes educativas para a surdez (referimo-nos ao oralismo, gestualismo e, mais recentemente, bilinguismo). A passagem duma perspectiva clínico-terapêutica para a sócio-antropológica tem alterado a visão que a sociedade tem das/os surdas/os, enquanto deficientes e doentes, para uma outra visão que considera que as pessoas surdas fazem parte de uma comunidade que é diferente e que deve ser respeitada (Coelho, 2007; Santana, 2007). Parte-se, então, de uma perspectiva educativa, recorre-se às narrativas biográficas com o intuito de produzir uma epistemologia da escuta activa.

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Maria Alexandra Gomes Machado Leandro - A Transição para o 5.º ano: expectativas e impossibilidades num território problemático

Resumo

A partir do acompanhamento de um programa de intervenção desenvolvido numa escola de primeiro ciclo com vista à passagem de alunos do 4.º ano para a escola de 2.º/3.º ciclos, pretende-se reflectir sobre as crenças e expectativas associadas aos alunos e às suas famílias, e o modo como estes elementos mobilizam teórica e emocionalmente os adultos que intervêm junto daqueles.
Uma parte significativa dos agentes escolares lê os comportamentos desajustados dos alunos (as dinâmicas agressivas inter-pares e o descentramento em relação às práticas pedagógicas na sala de aula) como estando na linha directa dos processos de socialização não escolares, no quadro de uma cultura africana favorecedora de dinâmicas incompetentes para a manutenção de um projecto de vida individual e familiar que tenha a escola como espaço central e inquestionável.
A nova escola - EB2/3 - é concebida como um dispositivo mais disciplinador e menos flexível, com menor encaixe para as dinâmicas desviantes dos alunos, dentro e fora da sala de aula. No contexto de uma lógica acentuadamente selectiva, alguns destes alunos encontram-se previamente sinalizados, transportando consigo uma narrativa escolar negativa, que assumirá outras configurações no novo espaço escolar. Sobre estes alunos, em particular, recai a necessidade de demonstrarem que são melhores do que as representações negativas que lhes estão associadas.
Pretende-se, deste modo, reflectir em que medida esta intervenção participa de uma lógica de reprodução dos processos de selectividade escolar vigentes, perspectivando o funcionamento das escolas como um dado incontornável e centrando o discurso na necessidade de auto-regulação dos comportamentos.

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Ângela Matos, Carlos Manuel Gonçalves, Mónica Santos, Patrícia Amaral - Orientação vocacional e trajectos escolares e profissionais

Resumo

Na presente comunicação pretendemos expor os principais resultados de um projecto de investigação sobre as condições e os processos de orientação vocacional dos finalistas do ensino secundário em Portugal. Partindo-se, num primeiro momento, da análise conceptual da orientação vocacional, procuramos identificar as principais diferenças, quer em termos de objectivos, quer em termos de operacionalizações, entre as recomendações internacionais, de organismos como a OCDE e a CEDEFOP, e a realidade nacional, concretizada nos Serviços de Psicologia e Orientação (SPO). Num segundo momento, procuramos compreender os significados subjacentes às escolhas e estratégias dos alunos face ao seu futuro e qual o papel e a importância dos SPOs neste processo, tendo presente os resultados de entrevistas exploratórias e de inquéritos realizados aos principais actores envolvidos: directores de escola, técnicos dos SPO e alunos finalistas do ensino secundário.

Maria Sidalina Almeida - Narrativas de transição de jovens de meios populares: das derivas na escola regular à reconstrução da relação com o saber no sistema de aprendizagem.

Resumo

Enfatizando a dinâmica dos percursos de transição procuramos perceber a diversidade de elementos que influenciam modalidades de percursos heterogéneos em jovens que realizaram cursos de formação profissional do sistema de aprendizagem.
Estes são percursos escolares, de formação, de inserção profissional e de emprego que se entrecruzam na sucessão do tempo de transição e que são analisados procurando articular dois aspectos essenciais do processo biográfico: a “trajectória subjectiva” e a “trajectória objectiva”. Só este cruzamento em termos de análise permite apreender identidades sociais como processos simultaneamente biográficos e institucionais. Foi fundamental conhecer a sucessão das situações ocupadas por cada um dos jovens em diferentes esferas da sua vida para compreendemos a história das diversas configurações que estrutura a articulação entre essas esferas. Essa história coloca em jogo dois níveis da realidade: o dos factos objectivos e o das percepções, representações e interpretações subjectivas e das suas transformações no encadeamento do percurso.
As histórias de transição revelam a “remobilização” dos jovens para a formação, enquanto sistema baseado na aprendizagem para o trabalho. Para a maioria destes jovens a orientação para a aprendizagem foi o momento último de uma queda, de “um insucesso” na escola regular, mas também o primeiro passo de uma subida no sistema de aprendizagem que lhes proporcionou a reconstrução da relação com o saber que sustenta a (re)construção identitária. A análise das suas trajectórias escolares permite-nos perceber que essa queda na escola regular toma formas de deriva lenta, mais rápida ou no seguimento de acontecimentos escolares traumatizantes.

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Ana Paula Marques, Rita Moreira - Empreendedorismo na Universidade do Minho. O potencial empreendedor dos diplomados do ensino superior numa perspectiva educativa

Resumo

Nos últimos anos, em Portugal como no resto da Europa, o empreendedorismo apresenta-se cada vez mais como uma das vias possíveis de acesso ao mercado de trabalho, podendo mesmo constituir uma modalidade alternativa de (re)inserção profissional particularmente importante para os jovens com qualificações superiores. Nesse sentido, entende-se que o empreendedorismo coloca novos e importantes desafios à Universidade que estão relacionados com a sua capacidade de, juntamente com outros actores (económicos, sociais, políticos, etc.) desenvolver o espírito empreendedor e uma cultura empreendedora e de inovação. Face à centralidade desta temática, neste artigo avançam-se os resultados preliminares obtidos no diagnóstico sobre o potencial empreendedor dos licenciados da Universidade do Minho. Baseado nas 283 respostas dos licenciados de diversas áreas científicas que concluíram o curso, entre 2002 e 2008, pretende-se, a partir de vários factores co-explicativos de segmentação do mercado laboral (curso, fileira científica, género, etc.) analisar o potencial explicativo de comportamentos diferenciados em relação ao emprego e ao empreendedorismo (e.g. propensão para o empreendedorismo, empresalidade, sectores de actividade preferenciais, entre outros). Recorrendo à análise das suas trajectórias académicas e profissionais e das suas estruturas de representações ambiciona-se contribuir para a discussão e reflexão em torno da importância da educação superior para o desenvolvimento do potencial empreendedor dos indivíduos e, sobretudo, perceber como algumas actividades formativas (curriculares e extracurriculares), em contexto académico, podem ser úteis no desenvolvimento do potencial empreendedor e de competências durante o percurso escolar que, por sua vez, contribuam para facilitar a transição dos jovens licenciados para o mercado de trabalho.

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Sofia Castro Pereira - (Re)Construindo Percursos Qualitativos – Os Cursos de Educação e Formação de Adultos enquanto espaço de valorização das competências

Resumo

Inseridos na Iniciativa Novas Oportunidades, na última década os Cursos de Educação e Formação de Adultos – EFA - têm envolvido milhares de adultos que vêem nesta oferta formativa uma possibilidade de (re)reconstruir percursos e reconhecer competências adquiridas ao longo da vida.
A presente comunicação insere-se num projecto de doutoramento onde se pretende perceber impacto da Iniciativa Novas Oportunidades nas trajectórias de vida de imigrantes com baixas qualificações escolares e profissionais, que adquiriram uma dupla certificação – escolar e profissional - em cursos EFA. Pretende-se compreender as mudanças e os impactos resultantes da frequência e certificação num curso EFA nas suas trajectórias de vida, nas dimensões pessoal, social e profissional. Concretamente, trata-se de analisar os impactos daquilo que designámos como experiência EFA.
Num primeiro momento, conta-se apresentar as especificidades de um modelo formativo assente em metodologias qualitativas, dando conta das diferentes fases de implementação dos cursos EFA para, num segundo momento, a partir de dados estatísticos disponibilizados pela Agência Nacional para Qualificação, perceber quem são os adultos envolvidos nestes percursos formativos.

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Luísa Saavedra, Telma Loureiro, Ana Daniela Silva, Liliana Faria, Alexandra Araújo, Sara Ferreira, Cristina Vieira, Maria do Céu Taveira - Diferentes olhares (de raparigas) sobre o mundo dos homens: escolher ou não escolher as engenharias

Resumo

Apesar da presença acentuada das mulheres no Ensino Superior Português, um número elevado de raparigas continua a não escolher sistematicamente determinados ramos da Engenharia e das Ciências, o que tem conduzido à realização de vários estudos na tentativa de encontrar explicações para este fenómeno. Neste sentido, o objectivo deste estudo é identificar as causas que levam as raparigas/mulheres a escolher ou evitar cursos ligados a estas áreas. Foram realizadas entrevistas semi-estruturadas a 102 participantes, desde o Ensino Básico a mulheres inseridas no mercado de trabalho. Para a análise destas entrevistas recorremos à Análise Temática do Discurso. Os resultados evidenciaram que as raparigas que escolhem ou que ponderam seguir estas áreas, apontam como causas, o gosto pela Física e Matemática, o facto de serem áreas com muitas saídas profissionais, existir na sua família pessoas ligadas a estas áreas, não conseguirem entrar no curso que gostariam e terem preferência por ambientes frequentados maioritariamente por homens. Em contrapartida, o facto de existir muitos rapazes/homens nestas áreas, reconhecerem a existência de discriminação nas escolas e no mercado de trabalho (salários mais baixos e dificuldades na contratação), falta de apoio familiar, e a necessidade das mulheres terem que provar a sua competência aos outros nesses meios, parecem ser as principais causas de evitamento destas áreas. A discussão destes resultados salienta como a diferente forma de olhar este mundo eminentemente masculino (de forma positiva ou negativa) pode promover uma aproximação ou afastamento do mesmo, em termos profissionais no futuro.

Nuno Manuel Ferreira Vicente Serra - Para além das imagens da educação e das políticas educativas. Representações dos alunos do ensino profissional sobre o papel da escola nos seus percursos biográficos

Resumo

No texto intitulado Para além das imagens da educação e das políticas educativas, pretende-se a partir de um estudo de caso realizar uma interpretação das representações dos alunos do ensino profissional sobre o papel da escola nos seus percursos biográficos, identificando as formas como a operacionalização de uma política educativa pode resultar na inversão de vectores de exclusão, criados a partir da marginalização em relação ao sistema educativo. Com exercícios de sociologia compreensiva ou interpretativa, observa-se a forma como determinadas regras de funcionamento deste tipo de ensino se concretizam nos indivíduos sob a forma de motivação, conseguindo fazê-los empreender uma reconciliação com a escola.
Tendo em consideração o insucesso anterior no percurso escolar da maior parte dos alunos que frequenta o ensino profissional, entende-se a mudança para uma situação marcada pelo sucesso, como o resultado do exercício das funções de novas representações sociais com incidência num outro nível de comunicação e construção da realidade. A abordagem às representações sociais possibilita a interpretação de significados através da desconstrução dos mecanismos através dos quais os actores sociais operacionalizam um conjunto de práticas sedimentadas em processos identitários, numa rede de processos de empowerment institucional e self-empowerment.
A escola do estudo de caso é reconhecida como um sistema interactivo cujo funcionamento tem que ser compreendido com referência a um ambiente social mais amplo, o que quebra claramente a afirmação de mecanismos de exclusão. Aquela que é sentida perante o insucesso, por parte de cada um dos actores, é contornada através da forma como estes são projectados a partir da escola para outros espaços, dinamizando processos de integração e inserção social, motivadores do incremento da auto-estima. Os indicadores sobre as diferenças de rendimento entre cursos de escolas secundárias e profissionais, sustenta a necessidade de uma interpretação reflexiva sobre os factores que as justificam.

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Jorge Almeida - Capital Social e resultados escolares: a importância da participação dos pais

Resumo

Esta apresentação aborda a importância do Capital Social como recurso mobilizável pela comunidade educativa – professores, pais, alunos, funcionários – para aumentar o grau de sucesso escolar dos alunos.
Efectua-se uma rápida revisão da literatura desta temática dando particular ênfase aos trabalhos pioneiros de James S. Coleman, nomeadamente aos seus estudos sobre a Educação. Destacaremos a importância das redes fechadas na criação de normas e hábitos favoráveis ao estudo e à obtenção de conhecimentos.
Reflecte-se sobre os níveis de capital Social exibidos pela sociedade portuguesa e o seu posicionamento no contexto europeu e internacional, procurando-se inquirir sobre a relação entre Capital Social e nível educacional.
Vários estudos internacionais caracterizam o nosso país como tendo um Capital Social diminuto, em que a Confiança dos cidadãos uns nos outros e nas instituições é baixo, em que o gregarismo e o associativismo são reduzidos.
Comparamos os níveis de Capital Social com os resultados dos estudo PISA (Program for International Student Assessment) e concluiremos que países com níveis baixos de Capital Social tendem a ter menores resultados escolares do que os países com níveis de Capital Social mais elevados.
Por último listam-se algumas ideias que poderiam contribuir para o desenvolvimento do Capital Social nas escolas portuguesas.

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Teresa Seabra, Patrícia Ávila, Leonor Castro, Vera Henriques - Diferentes desempenhos de populações escolares semelhantes

Resumo

Até que ponto podem revelar desempenhos desiguais escolas cuja população escolar é semelhante social e culturalmente? Qual a amplitude da variação dos desempenhos? Que o poder tem cada escola de modelar as trajectórias escolares dos seus alunos? O que contribui positiva ou negativamente para o desempenho dos diferentes grupos de alunos?
Tomando como referência os resultados obtidos nas provas de aferição do 4º e do 6º ano, realizadas pelos alunos da AML no final do ano lectivo de 2008/09, compara-se o desempenho obtido por cada escola (média dos resultados dos alunos) e o perfil das respectivas populações escolares. Foi possível identificar escolas cujos resultados dos se situam acima ou abaixo do que seria expectável, considerando as condições sociais em que vivem os seus alunos e, complementarmente, explorar algumas das condições organizacionais que potenciam ou reduzem as possibilidades de êxito escolar.

Maria Eugénia Álvares, Tiago Caeiro - Ser e Aprender: A Resposta TEIP no Combate às Desigualdades Sociais na Educação

Resumo

Esta apresentação procura lançar a discussão em torno das desigualdades sociais e face à escola, centrando-se na procura de soluções para desenvolver um sistema educativo equitativo e de excelência. É analisada a relevância e pertinência de um tipo particular de resposta política, assente na territorialização e descriminação positiva de escolas, tendo por base a experiência do 2° Programa dos Territórios Educativos de Intervenção Prioritária (TEIP2) do Ministério da Educação e procurando analisar a eficácia desta iniciativa.
Para o efeito, foi analisado um questionário lançado a 35 escolas da segunda geração do Programa de Territórios Educativos de Intervenção Prioritária (TEIP2) que desenvolveram projectos entre 2006/2009 (TEIP2 1a fase), sendo apresentados e examinados os principais resultados relativos a um conjunto de dimensões estratégicas do sucesso escolar e educativo.
A análise da informação permitiu reconhecer o sucesso do Programa TEIP nos agrupamentos de escola e escolas não agrupadas da 1° fase, tendo-se verificado, no conjunto, uma diminuição do abandono escolar e das taxas de retenção, uma melhoria do clima escolar e dos resultados da avaliação externa das aprendizagens, bem como efeitos ao nível da diversificação de respostas pedagógicas e sociais e de ofertas educativas e formativas.

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João Sedas Nunes - Da(s) diferença(s) escolar(es): lógica da acção e regimes de envolvimento

Resumo

Propõe-se versar as diferenças escolares. Não é fácil abordá-las sem ceder à doxa. Os assuntos da educação que facilmente revestem variações da democratização escolar prestam-se ao vórtice da opinião. A isso não é alheio o torvelinho de ideias distorcidas sobre as diferenças relevantes que permeiam a escola, com a agravante de amiúde sufragarem como únicas perspectivas aceitáveis pontos de vista não-políticos, como se a escola não fosse instituição que desde a sua génese enformou (di)visões políticas do bem comum e da pessoa humana. Há pois boas razões para atrair a discussão das diferenças escolares, é a opção, ao tema da heterogeneidade - tornando-a e não, como tantas vezes acontece na sociologia da educação, a desigualdade a chave lógica da restituição das distâncias sociais que a escola ajeita no seu interior. Tal não significa ignorar que o espaço escolar é constituído por diferenças vincadas de recursos, avultando os culturais; implica apenas reconhecer que nem toda a diversidade tabula hierarquias que se (re)fazem através da desigual repartição desses recursos. A heterogeneidade escolar também se funda nos juízos firmados em princípios de justiça, nas provas que os compilam e nas formas de engrandecimento e envolvimento que eles ditam. Tudo coisas da escola que se perpetuam por dinâmica intrínseca à escola. Pensar a escola contemporânea, reflectir critica e fecundamente no seu sentido, na trama das relações entre gerações muitas vezes de fileiras sociais diversas, envolve encarar a escola tal como ela é, incluindo um corpus de diferenças não redutível a um único princípio de diferenciação.

Teresa Dias, Isabel Menezes – Cidadania e participação: potencialidades dos alunos, percepções/expectativas dos professores

Resumo

Com o aparecimento do cidadão reflexivo como uma nova figura de intervenção social, política e cultural (Benedicto & Morán, 2002), urge a necessidade de se analisarem as estruturas sociais representativas na sua adequação aos actores emergentes. Considerando que a investigação sugere uma forte relação entre objectivos da educação (competências, capacidade critica, autonomia, empoderamento), envolvimento político e exercício da cidadania democrática (Emler & Frazer, 1999; Galston, 2004; Haste, 2004; Biesta & Lawy, 2006), o aluno apresenta-se como sujeito parceiro nos processos de desenvolvimento e requalificação das comunidades e das escolas (D'Espiney, R., 2009). Neste contexto, as práticas da cidadania implicam o envolvimento significativo dos alunos numa construção participada e cooperada (Fletcher, 2005; Sarmento, T. 2009). Propõe-se a reflexão sobre um estudo de caso realizado numa escola básica da área metropolitana do Porto, que coloca em perspectiva as potencialidades dos alunos (entre os 5 e os 14 anos) no exercício de uma cidadania activa e participada e as percepções que os professores, nos diferentes níveis do ensino básico, apresentam acerca do exercício da cidadania e participação por parte dos jovens alunos. Enquadrado no paradigma pós-moderno, este estudo de caso, adopta uma metodologia qualitativa, utiliza as potencialidades dos grupos de discussão focalizada para ouvir as vozes dos pequenos cidadãos (enquanto actores políticos) e as vozes dos professores, numa partilha de discursos quanto às capacidades dos alunos no exercício da cidadania. Os resultados permitem-nos observar a existência de diferentes expectativas dos professores (de acordo com o nível de ensino com que trabalham) e as potencialidades dos alunos, apontando para a necessidade de uma parceria mais activa entre crianças e adultos, no modo de participação, no qual as vozes dos mais novos traduzam uma forma recíproca, exploratória e dialógica de trabalhar (Fielding, M. 2010).

Maria Cecília Pereira dos Santos - A(s) voz(es) de jovens alunos do ensino secundário: experiências, dilemas e expectativas

Resumo

A comunicação que se apresenta resulta de uma pesquisa que teve lugar numa escola de ensino secundário. Ao privilegiar a(s) voz(es) de diferentes grupos de jovens, pretende explicitar algumas dimensões de análise relacionadas com a experiência social e escolar desses mesmos jovens.
Deste modo, no sentido de chegar à compreensão e à problematização do conceito de experiência social, sublinha, por um lado, algumas perspectivas teóricas defendidas pela Sociologia da Experiência, no que diz respeito à construção da experiência social e escolar dos jovens alunos do ensino secundário e, por outro, evidencia sentidos e singularidades das experiências juvenis e escolares.
Por fim, a partir de alguns dados empíricos decorrentes do trabalho de campo, discute diversos dilemas e diferentes expectativas de grupos de jovens alunos relativas à vida juvenil e à vida escolar.

Artigo

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Catarina Almeida Tomás, Ana Bernardo Gama - Cultura de (não) participação das crianças em contexto escolar

Resumo

A análise da participação das crianças e suas articulações com as instituições para a infância, especialmente a escola, é actualmente um dos temas mais expressivos nos estudos educacionais e sociológicos da infância. Pese embora a sua complexidade, torna-se cada vez mais urgente e necessário ouvir as crianças relativamente à sua acção e agência no espaço social onde passam mais tempo, a escola. Esta urgência advém da mudança de uma perspectiva paradigmática que considerava as crianças como objectos de intervenção, sem acção política, para uma perspectiva paradigmática que considera as crianças como actores sociais com direitos, nomeadamente os que estão consagrados na Convenção dos Direitos da Criança (1989), nomeadamente o artigo 12 (direito de expressão), o artigo 13 (direito de informar e ser informado) e o artigo 15 (direito de associação.
Esta comunicação apresenta um trabalho de investigação com carácter exploratório desenvolvido em cinco agrupamentos de Escolas da cidade de Lisboa, alguns dos quais com programa TEIP, e teve como objectivo central extrair algumas considerações, ainda que provisórias, sobre a (não) participação das crianças em contexto escolar. Para o efeito, analisamos os discursos de vários actores: direcção, professores, assistentes operacionais, associação de pais, animadores socioculturais, mediadores e associação de estudantes sobre a participação das crianças: concepções, representações e acções.
O trabalho empírico foi desenvolvido em contexto escolar, de forma a contribuir para a desconstrução da ideia de que "as escolas são os mundos dos professores nos quais as crianças são hóspedes temporários" (Wyness, 1999).

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Marta Vale, Sofia Marques da Silva - "Jovens e Escola na Zona Histórica do Porto”: de um tempo escolar desvalorizado a um tempo e espaço de lazer

Resumo

Esta apresentação tem como ponto de partida um estudo de carácter etnográfico realizado com jovens que vivem e frequentam uma escola EB2,3 na Zona Histórica do Porto. Este estudo reconheceu diversos circuitos juvenis que assumem um papel fundamental no decurso da investigação, tendo sido através da análise dos mesmos que foi possível identificar os espaços e os tempos de diferente natureza que atravessam a(s) juventude(s). Foi possível compreender os significados que os/as jovens atribuem a esses mesmos espaços, significados esses atravessados por relações de classe social, de etnia e de género. Nesta comunicação centraremos a nossa atenção no lugar que o espaço escolar ocupa no desenho dos circuitos juvenis.
A escola apresenta-se como um espaço dedicado à educação formal sendo o tempo escolar um dos principais organizadores dos tempos juvenis. Apesar do espaço escolar ser marcado por um tempo também essencialmente escolar, no seu interior podemos encontrar tempos não escolares e que contradizem as lógicas de organização do tempo. Os intervalos ou os “furos”, podem ser espaços intermédios de produção cultural e que integram de forma significativa alguns percursos juvenis, nomeadamente os femininos. Neste estudo foi possível encontrar diferentes posicionamentos do espaço escolar em diferentes circuitos juvenis e que se organizam de acordo com um mapa de oportunidades que os/as jovens têm e que organizam o acesso a outros espaços. Assim, pode constatar-se a existência de circuitos circunscritos, controlados e marcados por desigualdades pelo facto de serem raparigas, surgindo a escola como um espaço de oportunidades ao nível do lazer. Constatou-se, igualmente, que para algumas raparigas e para os rapazes a escola é um espaço periférico vivido e experienciado “da melhor forma” que podem pois existem outros espaços que são centrais e onde fazem os seus grandes investimentos.

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Paulo Marinho, Elisabete Ferreira - Os jovens num território educativo de intervenção prioritária (TEIP): oportunidades e sentidos

Resumo

No desígnio de uma escola pública baseada na promoção da educação para todos, com qualidade, orientada para a promoção da dignidade da pessoa humana, a igualdade de oportunidades e a equidade social (Preâmbulo do Despacho normativo nº 55/2008) assenta a criação do segundo Programa de Territórios Educativos de Intervenção Prioritária (TEIP). Territórios focalizados em contextos sociais e economicamente degradados em que algumas escolas se inserem e nos quais muitas crianças e jovens se encontram em situações de risco de exclusão social e escolar. Neste contexto, estes territórios assumem vários objectivos centrais, tais como: a melhoria da qualidade das aprendizagens; o combate ao abandono escolar; a criação de condições que favoreçam a orientação educativa e transição qualificada da escola para a vida activa (Despacho normativo nº 55/2008). Assim, nesta comunicação, partimos de estudos exploratórios e da experiência de consultoria e assessoria em territórios TEIP, cumprindo o objectivo de apresentar indicadores dos percursos escolares de jovens num Território Educativo Prioritário e (re)descobrir sentidos nas experiências vivenciadas. Trazemos através da análise dos discursos dos jovens, e de materiais diversos, a acção e os saberes em construção dos jovens nestes territórios – escola. No limite, pretende-se dar a vez e trazer (outros) sentidos escolares da juventude, sem discriminação e pelo direito à diferença.